28 outubro 2019
O Brasil foi o último país da América Latina a abolir a escravidão, depois de ter importado mais escravos africanos do que qualquer outro país latino-americano a partir do século dezesseis. É também um dos países que mais ostenta sua “mistura e diversidade racial”. Para o centenário da abolição da escravatura em 1988, a Universidade de São Paulo realizou uma pesquisa na qual 96% dos entrevistados declararam não ter preconceitos raciais, enquanto 99% afirmaram conhecer alguém que o fosse: “Todo brasileiro se sente como uma ilha de democracia racial cercada de racistas de todos os lados”.
As fotografias de um álbum de família de uma menina de ascendência africana nos convidam a participar de um jogo que evoca a infância e a vida cotidiana de uma pessoa comum. Um tweet de 280 caracteres é suficiente para desnudar a mesa das maravilhas brasileiras, transformando o espectador em um questionador diante de banalidades brutais e uma desumanização fatal do outro, muito no presente. Bem no século XXI, a internet restabelece uma realidade cotidiana que mostra o incrível poder contido na “história única” e o legado de seus criadores ou disseminadores, pois passa a fazer parte do imaginário coletivo, com sua gradação de tons e autodefinições: ubíqua, apesar dos gestos simbólicos que perdem seu significado e acabam sendo meras desculpas, justificações. O aberrante se tornou natural, licenciado.