“O que é que as nossas mães andaram a fazer para não terem bens para nos deixar? A maquilhar o nariz? A ir às montras? A apanhar sol em Monte Carlo?”

Estas são algumas das muitas perguntas que, com um tom irónico, Virginia Woolf emitiu no seu ensaio A Room of One’s Own (1929), numa reflexão sobre a situação injusta de muitas mulheres presas a vidas não emancipadas e sem possibilidades de escolha.

Ter um quarto só para si e ter autonomia económica continua a ser um objetivo vital para muitos hoje em dia, tal como a capacidade de se exprimir a partir do seu próprio ponto de vista.

Nesta exposição, um grupo de artistas da plataforma CSF (Cómo ser Fotógrafa) convida-nos a refletir sobre uma procura de verdade neste olhar. Uma verdade na forma de observar e apresentar o outro, ou melhor, as “outras”, longe dos condicionamentos estéticos clássicos aprendidos ao longo da história da arte e da fotografia. Nem sempre é fácil aceder a uma visão da arte que não seja dominada por uma abordagem clássica, que exclui temas de particular sensibilidade, ou em que são os homens que nos retratam ou apresentam as mulheres.

As imagens apresentadas por estas autoras propõem uma leitura singular, integrando o aspeto emocional como elemento fundamental do retrato. Assim, o retrato é interpretado a partir da contemplação e admiração de cada artista pela personalidade retratada. São mulheres de cultura que, apesar de terem alcançado um considerável grau de sucesso nas suas áreas profissionais, ainda não atingiram um nível de visibilidade e reconhecimento suficientemente alargado para além do público especializado.

Una Visión Propia é uma exposição que reivindica a contribuição do género para o contexto cultural espanhol a partir de duas vertentes. Por um lado, apresenta a formação das mulheres em áreas como a arquitetura, o design, a arte, a música, a moda, a literatura e as artes do espetáculo. Por outro lado, mostra o posicionamento ativo das mulheres fotógrafas contemporâneas nos dias de hoje.

Que melhor altura para revelar a sua própria visão a partir do olhar de umas mulheres para outras do que agora, quando o talento de todas elas é já um facto inquestionável!

Marta Soul

Ver Folha de Sala

Fotos Mike Jorquera

Retratos de Lucía Mbomio e Quan Zhou Wu
Reivindico a presença de pessoas racializadas como parte do tecido cultural e criativo da sociedade espanhola.
Com referências no retrato pictórico, utilizo cores vibrantes e grandes dimensões para realçar e destacar a importância das diversas perspectivas na construção de uma sociedade onde todos nos sintamos representados.
É importante considerar um feminismo interseccional que seja antirracista e anti-colonialista.
Virginia Wolf tem sido uma referência magnífica para este projeto, mas já não estamos no século XIX ou XX, onde aqueles que eram deixados a limpar ou a cuidar enquanto outros podiam reivindicar o seu papel na sociedade não eram tidos em conta.
papel na sociedade.
No meu trabalho, tento esclarecer, em cada passo, em cada interação que tenho na minha vida, as desigualdades actuais e as que fazem parte da nossa história, tentando criar um futuro diferente.
É a realidade do mundo em que vivemos, e é uma invisibilização que parte da nossa sociedade vive.
Dito isto, os retratos da escritora Lucía Mbomio e da romancista gráfica Quan Zhou Wu levantam a seguinte questão: não há mulheres racializadas a fazer coisas maravilhosas na arte espanhola?

Fotos do making of por 7limones